Milhares de pessoas começaram a se aglomerar na
noite da quarta-feira, 13 de março de 2013, na Praça São Pedro. Nem o
frio, nem a chuva afastaram os fieis que esperavam sair da chaminé da Capela
Sistina a fumaça que confirmaria ou não o fim das votações do Conclave para
eleger o sucessor de Bento XVI.
Às 19h10 locais, exatamente 15h10 em Brasília, a
multidão reparou o sinal que iria começar a transformar, mais uma vez, o
caminho da Igreja: a fumaça estava saindo. Preta, cinza, branca? Era branca!
Sim, os Cardeais haviam escolhido o novo Papa, o vigário de Cristo na terra.
Famílias, padres, freiras, idosos e jovens gritavam de júbilo na Praça. Em
menos de dois dias de Conclave, a Igreja Católica ganhou um novo pai.
Depois da fumaça, a expectativa quanto à identidade do Sumo Pontífice
tomou o mundo. Não só o Vaticano ou a cidade de Roma pararam: mais de cinco mil
jornalistas credenciados para a cobertura do Conclave e cerca de 1,2 bilhão de
católicos aguardavam com ansiedade o nome do Santo Padre. Milhões de pessoas
acompanharam a cobertura dos acontecimentos pela Internet e contribuíram para
que a tag #habemuspapam se tornasse o assunto mais comentado no Twitter.
Passados 60 minutos desde a fumaça branca ter aparecido, as luzes da
sacada central da Basílica de São Pedro foram acesas e o cardeal-protodiácono
Jean-Louis Tauran, de 70 anos de idade, apareceu para dar o anúncio. “Habemus
Papam!”.
Até a tarde de 13 de março o escolhido para guiar a Igreja era ainda um
simples Cardeal: Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos de idade e um dos eleitores
do Conclave. No começo da noite, ele se tornou o Papa Francisco e mostrou para
o mundo duas virtudes bem características do Santo de Assis: oração e
humildade.
“Irmãos e irmãs, boa-noite!
Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo
a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do
mundo… Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma
tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo
nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor
o abençoe e Nossa Senhora o guarde. (…)
E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo… este
caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na
caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos
sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande
fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me
ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a
evangelização desta cidade tão bela!
E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes,
peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao
Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o
seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim. (…) Agora dar-vos-ei a Bênção, a
vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade. (…)
Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado
pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã
quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa
noite e bom descanso!”
Para celebrar o primeiro ano de pontificado de Francisco, o Vaticano
lançou moedas e selos comemorativos. Também será divulgado um DVD que mostrará
os bastidores do dia da eleição: as imagens vão desde o interior da Capela
Sistina até o anúncio para o mundo, na sacada da Basílica de São Pedro.
Anúncio de Francisco, de uma forma inesperada
Aqui no Brasil, em meio ao conclave e a toda a
expectativa sobre quem seria o novo papa, algo inusitado aconteceu. Em uma
cidade do interior de Pernambuco, uma médica estava realizando um exame em uma
gestante para descobrir o sexo do bebê. A ultrassonografia estava sendo
realizada no dia 13 de março, logo após a fumaça branca aparecer na praça de
São Pedro. Ainda estava no intervalo, entre a fumaça e o anúncio.
Neste exame foi descoberto que era um menino. Logo
em seguida, a médica perguntou como iria se chamar o bebê. A mãe respondeu de
imediato: Jorge. Enquanto isso, aumentava a expectativa na Praça São Pedro ao
passar os minutos. Pouco tempo depois, para a surpresa de quem acompanhou o
exame, o cardeal Jorge Mário Bergoglio foi anunciado como novo pontífice – uma
vida nova para a Igreja que contava, agora, com dois papas. Uma feliz
coincidência naquela tarde de quarta-feira – ou, para alguns, pequenos sinais
de Deus na vida dos fieis.
Um ano de Jorge – o papa
Parece que não, mas já se passou um ano daquele dia da fumaça branca. Ao
logo desse período de pontificado, Francisco começou a ser conhecido como um
homem de grande humildade. Como atos simples e originais, o Pontífice ligou e
escreveu de forma inusitada para várias pessoas, visitou moradores de rua em
Roma, trocou o próprio solidéu pelos produzidos por peregrinos no Vaticano e no
Brasil, tocou para frente as reformas necessárias na Cúria Romana e nas
finanças do Vaticano, foi padrinho de batismo de um bebê quase abortado – fruto
de uma relação extraconjugal – e pediu para que o Papa Emérito Bento XVI
continue ativo na vida da Igreja.
Na Jornada Mundial da Juventude brasileira, a
primeira do pontificado, Francisco ganhou a imprensa mundial e se tornou o
homem de 2013 na revista Times. Também foi
capa da Rolling Stones neste ano. Já a conta oficial do
Papa no Twitter é a segunda mais seguida, com mais de 12 milhões de seguidores
de diferentes nacionalidades.
Como os antecessores, Francisco tem um carisma específico e não se
prende a isso para dar passos na missão a ele confiada. Pelo contrário, ensina
que o caminho a ser trilhado é o da simplicidade, misericórdia e acolhimento:
“Jesus quis conservar as suas chagas para nos fazer sentir a sua misericórdia.
Esta é a nossa força, a nossa esperança”, tuitou o Papa em novembro de 2013.
Justamente no dia em que completa um ano à frente da Igreja, ele pediu no
microblog: “Rezai por mim”, da mesma forma que o fez quando anunciado papa – um
gesto inédito.
O papa Francisco também lançou uma exortação apostólica
– a primeira de seu pontificado -, chamada Evangelii Gaudium –
A alegria do Evangelho. Nela, o Sumo Pontífice diz que a Igreja deve
servir com simplicidade e humildade – uma mensagem direta aos responsáveis pela
evangelização.
Palavras aos jovens
O pontificado de Francisco também se marcou pelas
palavras dirigidas aos jovens, especialmente na Jornada Mundial da Juventude. O
site Destrave selecionou dez conselhos do papa
Francisco à juventude:
1) Ter um coração jovem sempre: “Vós tendes uma parte importante na
festa da fé! Vós nos trazeis a alegria da fé e nos dizeis que devemos vivê-la
com um coração jovem sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos!
Coração jovem! Com Cristo o coração não envelhece nunca!” (Homilia de Domingo de Ramos 24/03/2013 – Dia da Juventude)
2) Ir contra a corrente: “Sim, jovens, ouvistes bem: ir contra
a corrente. Isso fortalece o coração, já que “ir contra a corrente” requer
coragem, e o Senhor nos dá essa coragem. Não há dificuldades, tribulações,
incompreensões que possam nos meter medo se permanecermos unidos a Deus como os
ramos estão unidos à videira, se não perdermos a amizade d’Ele, se lhe dermos
cada vez mais espaço na nossa vida”. (Santa Missa dos crismandos em
Roma – 28 de abril de 2013)
3) Apostar em grandes ideais: “Não enterrem os talentos! Apostem em
grandes ideais, aqueles que alargam o coração, aqueles ideais de serviço que
tornam fecundos os seus talentos. A vida não é dada para que a conservemos para
nós mesmos, mas para que a doemos. Queridos jovens, tenham uma grande alma! Não
tenham medo de sonhar com coisas grandes!” (Catequese do dia 24/04/2013).
4) Estar com Deus em silêncio: “Aprendam a permanecer em
silêncio diante d’Ele, a ler e meditar a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a
dialogar com Ele, todos os dias, para sentir a Sua presença de amizade e de
amor”. (Mensagem aos jovens reunidos para a “Sexta Jornada dos
Jovens” da Lituânia 28-30 de junho)
5) Rezar o Rosário: “Gostaria de destacar a beleza
de uma oração contemplativa simples, acessível a todos, grandes e pequenos,
cultos e pouco instruídos: a oração do Santo Rosário. O Rosário é um
instrumento eficaz para nos ajudar a nos abrirmos a Deus, porque nos ajuda a
vencer o egoísmo e a levar a paz aos corações, às famílias, à sociedade e ao
mundo.” (Mensagem aos jovens reunidos para a “Sexta Jornada dos Jovens” da
Lituânia 28-30 de junho)
6) Fazer barulho: “Aqui, no Rio, farão barulho, farão
certamente. Mas eu quero que se façam ouvir também, nas dioceses, quero que
saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo
o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é
clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos”. (Discurso aos Jovens Argentinos durante a JMJ Rio 2013)
7) Aproximar-se da cruz de Cristo: “Queridos amigos, a Cruz de Cristo
nos ensina a sermos como o Cireneu, aquele que ajuda Jesus a levar o madeiro
pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar
Jesus até o fim, com amor, com ternura. E você, como é? Como Pilatos, como o
Cireneu, como Maria?” (Discurso aos Jovens durante a
Via-sacra, em Copacabana, durante a JMJ Rio 2013)
8) Ser protagonista das mudanças: “Através de vocês, entra o
futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta
mudança. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo
melhor. Queridos jovens, por favor, não ‘olhem da sacada’ a vida, entrem nela.
Jesus não ficou na sacada, Ele mergulhou… ‘Não olhem da sacada’ a vida,
mergulhem nela como fez Jesus”. (Discurso na Vigília de Oração,
na praia de Copacabana, durante a JMJ Rio 2013)
9) Servir sem medo: “Não tenham medo de ir e levar
Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem
parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que
todos sintam o calor da Sua misericórdia e do Seu amor”. (Homilia da Missa de encerramento da JMJ Rio 2013)
10) Ser revolucionário: “Na cultura do provisório, do
relativo, muitos pregam que o importante é ‘curtir’ o momento, que não vale a
pena se comprometer por toda a vida, fazer escolhas definitivas ‘para sempre’,
uma vez que não se sabe o que nos reserva o amanhã. Nisso peço que se rebelem:
que se rebelem contra a cultura do provisório, a qual, no fundo, crê que vocês
não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de
verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a
coragem de ‘ir contra a corrente’. E também tenham a coragem de ser
felizes!” (Discurso aos voluntários da JMJ Rio 2013)
Francisco também pediu aos jovens que não tenham medo de ser felizes,
que encarem a realidade: “Jovens, não tenham medo de fazer escolhas definitivas
na vida”. Rezar e caminhar – são esses os dois passos que o jovem deve dar,
segundo Francisco.
- “Rezar e caminhar na Igreja. Essas duas coisas caminham juntas, são
interligadas. Na origem de toda vocação à vida consagrada existe sempre uma
forte experiência de Deus, uma experiência que nunca se esquece. É Deus quem
chama. Por isso, é importante ter uma relação cotidiana com Ele”, sublinhou no
encontro com os jovens em Assis.
O maior convite de Francisco é para que os jovens sigam, sem medo, para
anunciar a Palavra de Deus entre as nações, já que ”o Evangelho não diz
respeito somente à religião, mas ao ser humano como um todo, ao mundo, à
sociedade e civilização humana. O Evangelho é mensagem de salvação de Deus para
a humanidade”.
Por: Felipe Rodrigues, Lilian da Paz,
com informações de Daniel Machado.
Fonte: Jovens Conectados
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