Neste domingo, 18 de outubro, a Igreja
celebra o Dia Mundial das Missões. Em todas as celebrações acontece a Coleta
missionária. Entre os vários subsídios da Campanha Missionária encontra-se a
mensagem do papa Francisco para o 89º Dia Mundial das Missões. “A missão não é
proselitismo, nem mera estratégia; a missão faz parte da gramática da fé, é
algo de imprescindível para quem se coloca à escuta da voz do Espírito...”, diz
o papa em um trecho da mensagem. Eis o texto, na íntegra.
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS
MISSÕES DE 2015
Queridos irmãos e irmãs
O Dia Mundial das Missões 2015 se
realiza no contexto do Ano da Vida Consagrada e recebe um estímulo para a
oração e a reflexão. Na verdade, se todo batizado é chamado a testemunhar o
Senhor Jesus proclamando a fé recebida como um presente, isso vale, de modo
particular, para a pessoa consagrada, pois entre vida consagrada e missão
existe uma ligação forte. O seguimento a Jesus, que determinou o surgimento da
vida consagrada na Igreja, responde ao chamado a tomar a cruz e segui-Lo, a
imitar a sua dedicação ao Pai e seus gestos de serviço e amor, e a perder a
vida para reencontrá-la. Como a existência de Cristo tem um caráter
missionário, os homens e mulheres que o seguem mais de perto assumem plenamente
esse mesmo caráter.
A dimensão missionária, que pertence à
própria natureza da Igreja, é intrínseca a todas as formas de vida consagrada,
e não pode ser negligenciada sem deixar um vazio que desfigura o carisma. A missão
não é proselitismo ou mera estratégia; a missão faz parte da “gramática” da fé,
é algo imprescindível para quem escuta a voz do Espírito que sussurra “vem” e
“vai”. Quem segue Cristo se torna missionário e sabe que Jesus «caminha com
ele, fala com ele e respira com ele. Sente Jesus vivo junto com ele no
compromisso missionário» (EG, 266).
A missão é ter paixão por Jesus Cristo
e ao mesmo tempo paixão pelas pessoas. Quando nos colocamos em oração diante de
Jesus crucificado, reconhecemos a grandeza do seu amor que nos dá dignidade e
nos sustenta; e no mesmo momento percebemos que aquele amor que parte de seu
coração transpassado se estende a todo o povo de Deus e a toda a humanidade; e
assim sentimos também que Ele quer servir-se de nós para chegar cada vez mais
perto de seu povo amado (cf. ibid., 268) e de todos aqueles que o procuram de
coração sincero. No mandamento de Jesus: “ide”, existem cenários e sempre novos
desafios para a missão evangelizadora da Igreja. Nela, todos são chamados a
anunciar o Evangelho por meio do seu testemunho de vida; e os consagrados,
especialmente, são convidados a ouvir a voz do Espírito que os chama para ir
rumo às grandes periferias da missão, entre as pessoas que ainda não receberam
o Evangelho.
O quinquagésimo aniversário do Decreto
conciliar Ad gentes nos convida a reler e a meditar esse documento que
despertou um forte impulso missionário nos Institutos de vida consagrada. Nas
comunidades contemplativas, retomou luz e eloquência à figura de Santa Teresa
do Menino Jesus, padroeira das missões, como inspiradora da ligação íntima da
vida contemplativa com a missão. Para muitas congregações religiosas de vida
ativa, o anseio missionário que surgiu do Concílio Vaticano II se concretizou
com uma abertura extraordinária para a missão ad gentes, muitas vezes
acompanhada pelo acolhimento a irmãos e irmãs provenientes de terras e culturas
encontradas na evangelização, de modo que hoje se pode falar de uma
interculturalidade difundida na vida consagrada. Por esse motivo, é urgente
repropor o ideal da missão em seu centro: Jesus Cristo, e em sua exigência: o
dom total de si ao anúncio do Evangelho. Não pode haver tratativa sobre isto:
quem, pela graça de Deus, acolhe a missão, é chamado a viver de missão. Para
essas pessoas, a proclamação de Cristo nas várias periferias do mundo se torna
o modo de como viver o seguimento a Ele e a recompensa de muitas dificuldades e
privações. Toda tendência que desvia dessa vocação, mesmo que acompanhada por
motivos nobres relacionados com as muitas necessidades pastorais, eclesiais e
humanitárias, não é coerente com o chamado pessoal do Senhor para servir o
Evangelho. Nos Institutos missionários, os formadores são chamados tanto a
indicar com clareza e honestidade essa perspectiva de vida e ação, quanto a
influir no discernimento de vocações missionárias autênticas. Dirijo-me de modo
especial aos jovens, que ainda são capazes de testemunhos corajosos e atitudes
generosas e por vezes contracorrentes: não deixem que lhes roubem o sonho de
uma missão verdadeira, de doar-se ao seguimento a Jesus que requer o dom total
de si. No segredo de sua consciência, pergunte-se o motivo pelo qual escolheu a
vida religiosa missionária e meça a disponibilidade em aceitá-la por aquilo que
é: dom de amor a serviço do anúncio do Evangelho, lembrando que, antes de ser
uma necessidade para aqueles que não o conhecem, o anúncio do Evangelho é uma
necessidade para quem ama o Mestre.
Hoje, a missão enfrenta o desafio de
respeitar a necessidade de todos os povos poderem recomeçar de suas raízes e
salvaguardar os valores de suas respectivas culturas. Trata-se de conhecer e
respeitar as outras tradições e sistemas filosóficos e reconhecer, em cada povo
e cultura, o direito de fazer-se ajudar por sua tradição na inteligência do
mistério de Deus e no acolhimento ao Evangelho de Jesus, que é luz para as
culturas e sua força transformadora.
Dentro dessa dinâmica complexa nos
perguntamos: “Quem são os destinatários privilegiados do anúncio evangélico?” A
resposta é clara e a encontramos no próprio Evangelho: os pobres, os pequenos e
os enfermos, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que
não podem te retribuir (cf. Lc 14,13-14). A evangelização dirigida
preferencialmente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer: «Existe um
vínculo inseparável entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos nunca
sozinhos» (EG, 48). Isso deve ser claro, especialmente para as pessoas que
abraçam a vida consagrada missionária: com o voto de pobreza se escolhe seguir
Cristo nessa sua preferência, não ideologicamente, mas como Ele,
identificando-se com os pobres, vivendo como eles na precariedade da existência
cotidiana e na renúncia de todo o poder para se tornar irmãos e irmãs dos
últimos, levando-lhes o testemunho da alegria do Evangelho e a expressão da
caridade de Deus.
Para viver o testemunho cristão e os
sinais do amor do Pai entre os pequenos e os pobres, os consagrados são
chamados a promover, no serviço da missão, a presença dos fiéis leigos. O
Concílio Ecumênico Vaticano II afirmou: «Os leigos colaboram na obra de
evangelização da Igreja, participando como testemunhas e como instrumentos
vivos da sua missão salvífica» (AG, 41). É necessário que os consagrados
missionários se abram sempre mais corajosamente para aqueles que estão
dispostos a colaborar com eles, mesmo que por um tempo limitado, por uma
experiência a campo. São irmãos e irmãs que desejam partilhar a vocação
missionária inerente ao Batismo. As casas e estruturas das missões são lugares
naturais para o seu acolhimento e apoio humano, espiritual e apostólico.
As Instituições e Obras missionárias da
Igreja estão totalmente a serviço daqueles que não conhecem o Evangelho de
Jesus. Para realizar de maneira eficaz esse objetivo, elas precisam dos
carismas e do compromisso missionário dos consagrados, mas também os
consagrados precisam de uma estrutura de serviço, expressão da solicitude do
Bispo de Roma para garantir a koinonia, de modo que a colaboração e a sinergia
sejam partes integrantes do testemunho missionário. Jesus colocou a unidade dos
discípulos como uma condição para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21). Essa
convergência não equivale a uma submissão jurídico-organizacional a organismos
institucionais ou a uma mortificação da fantasia do Espírito que inspira a
diversidade, mas significa dar mais eficácia à mensagem do Evangelho e promover
a unidade de propósitos que é também fruto do Espírito.
A Obra Missionária do Sucessor de Pedro
tem um horizonte apostólico universal. Por isso precisa também dos muitos
carismas da vida consagrada, para se dirigir ao vasto horizonte da
evangelização e ser capaz de garantir uma presença adequada nas fronteiras e
territórios alcançados.
Queridos irmãos e irmãs, a paixão do
missionário é o Evangelho. São Paulo afirmou: «Ai de mim se eu não anunciar o
Evangelho!» (1 Cor 9,16). O Evangelho é fonte de alegria, libertação e salvação
para todos os homens. A Igreja é consciente desse dom, por isso não se cansa de
proclamar incessantemente a todos «o que era desde o princípio, o que ouvimos e
o que vimos com os nossos olhos» (1 Jo 1,1). A missão dos servidores da Palavra
- bispos, sacerdotes, religiosos e leigos - é colocar todos, sem exceção, em
relação pessoal com Cristo. No imenso campo da ação missionária da Igreja, todo
batizado é chamado a viver bem o seu compromisso, segundo a sua situação
pessoal. Os consagrados e consagradas podem dar uma resposta generosa a essa
vocação universal a partir de uma intensa vida de oração e união com o Senhor e
com o seu sacrifício redentor.
Confio a Maria, Mãe da Igreja e modelo
de missionariedade, todos aqueles que, ad gentes ou no próprio território, em
todos os estados de vida, colaboram com o anúncio do Evangelho e, de coração,
concedo a cada um a Bênção Apostólica.
Vaticano, 24 de Maio
– Solenidade de Pentecostes – de 2015.
Papa Francisco
Nenhum comentário:
Postar um comentário